jueves, octubre 11, 2012

marinheiro só.

enraizado sentado há três meses no mesmo sofá pernas de iroko apaoka akoko sem sexo empoeirado olhando pro nada.
saudade o tempo todo só sente saudade como se mais nada no mundo fosse além de saudade.
desespero também porque não porque se entre um gole e outro de café ou de bebida quem sabe até água um trago no cigarro lembra lembra lembra e chora.
choro que desce calmo arrastado quente como o último gole do último copo de uísque.
salgado como o mar as rosas que ele joga e pede pede yèyé omo ejá também sou peixe aceite por favor aceite.
sem vírgula sem tempo rápido rápido como o galope no cavalo de são jorge santo guerreiro. que vai além mar pra onde ela foi.
e de lá não volta mais.

martes, septiembre 27, 2011

nosso som

Cinzeiro cheio e copo vazio. Corpo inquieto. Mente inquieta. Mens sana in corpore, bláblá. Acho que nunca pensou que ouvir choro fosse tão, perturbador?

Olha, eu sei que tu tem um monte de coisas pra fazer, assim como todos sempre tem, e ninguém nunca, se permite o ócio, mas, mas, mas.

Fica só mais um pouco aqui comigo, deitado nesse sofá, com a cabeça apoiada nas minhas pernas, me conta da tua vida, diz que não deu nada certo, só pra variar um pouco, que não vê a hora de tudo voltar a ser como antes, e que nada, nunca vai voltar a ser como antes, porque só o que importa agora é o agora mesmo e sinceramente, só o que existe é o antes.

Aquela nostalgia que não acaba nunca e que de repente vem uma música e lembra, e vem um cheiro, e vem uma cor, e vem aquela sensação que vem junto com tudo isso, aquela sensação que já sabe de cor e já sabe que é bem inquietante. E perturbadora.

E agora troca a música, enche o copo, esvazia o cinzeiro.

E já pode ir embora novamente.

lunes, febrero 28, 2011

no amplo universo
onde se encontram os gestos
pequenos gestos são grandes
de fato
restos são restos.

lunes, febrero 07, 2011

Nunca

O último copo é o que dói mais. Esperar por uma noite que não chega, por alguém que nunca disse que viria. Ela se faz precisa toda enrolada em um edredom de abraços imaginários.

Não aguentava mais cigarros. Não aguentava mais. Os olhos vermelhos e cansados da noite que nunca chegava. E nunca acabaria, aquilo. As pessoas que não iam embora, aquilo. Pouco a pouco as pessoas indo embora e o momento chegando, aquilo. Isso: a esperança que sempre restava e o fazia acender mais um cigarro.


O cinzeiro verde musgo do lado da cama. A colcha verde a parede verde o pensamento verde os olhos pretos e a fumaça azul. Talvez cinza. Talvez verde. Talvez nunca. Nunca a barriga pra cima o corpo esticado reto sobre a cama, o corpo nu e esticado reto sobre a cama. Nunca o sono. Levantava pra ir até o banheiro, o chão gelado, o corpo quente. Quente nu e ereto. Sobre o chão, o chão de toda a casa: o mundo.

Ela se faz precisa toda enrolada em um edredom de abraços imaginários.

Um copo de água e um cigarro na sala. Talvez ligasse a tv, talvez abrisse a janela, talvez alguém tocasse a campainha, talvez alguém ligasse, talvez algum recado. Seria melhor não checar. Mas checava. Seria melhor não esperar, mas esperava. A noite que nunca chega. Os cigarros que nunca acabam e o sono que nunca vem.


Uma pilha de revistas. Várias pilhas de discos. Vários cadernos empilhados anotações espalhadas desenhos espalhados tintas espalhadas canetas espalhadas enormes instrumentos bloqueando a passagem de sonhos espalhados. Distração noturna era organizar tudo. Juntar o lixo, esvaziar os cinzeiros.

Voltar a cama seria perder tempo tão não precioso. Poderia tentar se distrair sozinho, se fazer sono, repetindo palavras incessantemente até a realidade se misturar com o sonho, até não entender. Não poder mais.

Mas seria perder tempo.


O corpo esticado reto sobre a cama, o corpo nu esticado reto sobre a cama. Não teria sono. Nunca. Poderia sonhar e seria atormentador. Como foi na noite passada, como tinha sido em todas as últimas noites. A única coisa que o fazia se sentir acompanhado, mesmo distante. SOZINHO. É uma palavra que de repente dói. E de repente conforta. E de repente amedronta. E de repente conforta.

Sozinho.

O corpo esticado reto sobre a cama. O corpo nu esticado reto sobre a cama.

O sono que não vem. A noite que não chega. Alguém que nunca virá.

O sono que não vem. A campainha que não toca. O telefone que não toca. O recado que não chega.

O cigarro que acaba.

O sonho que não quer que venha. Nunca.

Ela se faz precisa toda enrolada em um cobertor de abraços imaginários.

O abraço que não vai deixar de ser imaginário.

Nunca.

miércoles, diciembre 01, 2010

destino canções pros teus olhos vermelhos

...querida nunca mais se deixe esquecer
onde nasce e mora todo o amor.

Trovoa - Mauricio Pereira

A cidade é cinza, como porto alegre deve ser no inverno, embora seja verão. Choveu o dia todo e a semana toda e ontem choveu muito mais do que todos os outros dias. Hoje porto alegre tinha cheiro de pós-chuva.

Lá dentro intelectuais discutem marginalidade na literatura brasileira enquanto bebem vinho e chopp e coca com gelo e limão e água mineral e suco natural de laranja sem gelo. E fumam. Marlboro Lucky Strike Carlton (que agora é Dunhill) e talvez Free.


Pela janela eu vejo ela passando com seu cachorro e seu namorado (acho que eu não tenho mais tempo pra ter vontade de desejar alguém).


Roubaram três carros e um menino foi buscar sua bola que atravessou a rua. Parou no corredor de ônibus. Agora só pode fumar na sacada. Ela toma mais uma taça de vinho. Eu queria tomar uma taça de vinho, mas tomo uma coca com gelo e limão. E fumo na sacada.

Roubaram mais um carro.


Pela janela eu vejo ela entrando no parque e balançando os cabelos. E isso me faz sorrir (acho que ainda tenho tempo pra tudo o que eu quiser, embora tente ocupar meu tempo com coisas sempre óbvias e práticas).


(às 8 da noite
eu fumo um marlboro na rua como todo mundo

e como você
eu sei
quer dizer
eu acho que sei…
eu acho que sei…)



Eu queria ter pego um casaco pra poder voltar a pé. Dentro do ônibus só tem eu o cobrador e o motorista. Eu queria acender um cigarro (sempre quero acender cigarros, muito mais do que fumar os acesos).

Vou passar no mercado e comprar um vinho. E quando chegar em casa vou fumar um Derby na janela bebendo vinho e olhando o prédio do lado que não é cinza, é branco.

E vou deitar e me dar tempo pra ter vontade de desejar alguém.


martes, noviembre 16, 2010

vidro barato

rôo minhas unhas
vendo um musical antigo
quem dera tuas unhas
na minha pele
rasgando de dentro de mim
essa angústia.

...

gosto do que dilacera
gosto da expressão dilacerar
gosto de cortes
acho bonito a marca
acho sincero
tudo que fica pra depois.

...

não queria uma taça de vinho
nem um disco de jazz
nada mais patético
em uma madrugada
que os vidros embaçam
pela chuva que insiste em cair.

..

nessa cidade vazia
tudo é calma
tudo vacila
tudo cai
tudo espatifa
como vidro barato
tudo corta
e machuca
como vidro barato.

miércoles, agosto 18, 2010

confesso:

me sinto patético
nessa cama
meio paralítico
confesso
como se fosse doente
não mexo as pernas
nem o cérebro
me deixo assim abatido
mais um dia
menos uma vida

até o pôr-do-sol
do outro dia
e meu cobertor no inverno
agora a cama vazia
nem o cheiro de café
nenhum abraço
nenhuma chegada
e nenhuma partida

me sinto completo
nessa cama
meio abstrato
confesso
como se fosse perfeito
não mexo as pernas
nem o cérebro
me deixo assim abatido
menos um dia
mais uma vida

até o nascer do sol
desse dia
e meu cobertor no inverno
agora a cama vazia
sinto o cheiro do café
me dá um abraço
e só mais um chegada
e outra partida